sexta-feira, dezembro 23, 2005

BR:Europa é exigência para a sobrevivência do clube

Entrevista a BR, publicada em A Bola
JOSÉ CARLOS BARROS RODRIGUES, 43 anos, é o homem forte do futebol do Belenenses e personifica a ambição de todos os que reclamam o regresso aos patamares de outrora. Foi balizado nesse objectivo que foi desenhada a régua e esquadro a preparação de uma época norteada pela conquista de uma classificação europeia. O caminho foi, contudo, minado por um nefasto período, cuja explicação escapa à lógica. Mas o pior já passou, entende o presidente da sociedade desportiva. A hora é de estabilizar e olhar para cima. Barros Rodrigues continua a assumir, porém, que urge ter a equipa na Europa. Porque é uma exigência para a sobrevivência do próprio clube.
A temporada apresta-se a chegar ao intervalo.O12.º lugar do Belenenses ao cabo de 16 jornadas fica aquém das expectativas no contexto da meta de devolver o clube à Europa. Mas há agora, com José Couceiro ao leme, sinais de clara retoma. Depois de três vitórias nos últimos quatro jogos, o que pareceu irremediavelmente inatingível voltou a ficar mais perto. Importa, contudo, evitar derrapagem como a que aconteceu sob o comando de Carlos Carvalhal. Ainda hoje difícil de explicar.
A esta distância, o que é que pensa que fez a equipa desviar-se do objectivo europeu?
Há aspectos no futebol que são controláveis e outros impossíveis de controlar. Tenho consciência plena de que esta época foi desenhada ao detalhe. Mas a verdade é que três ou quatro factores fizeram-nos resvalar por completo.
— Quais?
— Tínhamos bons jogadores, mas não estavam ligados ao conceito de equipa e isso explica um pouco duas exibições que considero péssimas: com o E. Amadora, no Restelo, e na Figueira da Foz. Acabaram por desequilibrar emocionalmente os jogadores. Depois, com o Rio Ave, tivemos a infelicidade de o árbitro sancionar um penalty que não existiu. Contrariou uma eventual recuperação e tivemos aí o aleatório do futebol contra nós. O somatório de tudo isto induziu naquela sequência muito má de resultados.
— Com tanta planificação, como é que se sentiu ao despedir Carlos Carvalhal à oitava jornada?
— Como é óbvio não foi uma decisão fácil. Há muitos exemplos de que a paciência pode gerar frutos . Simplesmente achámos que o ambiente geral já não justificava a sustentabilidade dessa solução.
Demissão da SAD seria pior
A pressão dos adeptos abateu-se sobre a Direcção. Esta pressionou a administração a agir?
— A pressão dos adeptos é real e temos de viver com ela. É o que justifica a nossa existência. Temos de viver com e para essa pressão. Mas queria dizer de forma clara que nunca sentimos pressão da parte da Direcção. Decidimos de plena consciência, com calma, analisando os factos e sem constrangimentos de fora para dentro.
— Houve quem colocasse em causa a competência da SAD. Como se sentiu nessa altura?
Estou na SAD para servir o Belenenses e não me pareceu que a solução da demissão da administração fosse interessante para a SAD. Provocaria instabilidade ainda maior e as coisas poderiam descontrolar-se. À administração cabe muito mais do que aquilo que é visível,mas só somos medidos pelos resultados nos jogos. Neste momento estamos a desenvolver trabalho de curto prazo, que é esta época, mas também de médio/ longo prazo, que passa por medidas estruturantes que poderão colocar o Belenenses no lugar a que historicamente tem direito.
— Esse projecto era — ainda pode ser — para concretizar já esta época...
Há um aspecto que é importante frisar: um objectivo, tal como o entendo na perspectiva de gestor, não é uma promessa, é fixar um alvo e desenvolver procedimentos internos para o atingir. Como é óbvio, depois pode ser cobrado o facto de ser atingido ou não. Neste momento as coisas têm de ser colocadas de outra forma, mas continuamos a achar que o Belenenses nos próximos anos terá condições para, de forma sustentada, ir às competições europeias. E isso é, em meu entender, uma exigência para a sobrevivência do clube.
Momento de viragem
— Depois dos últimos resultados este é um momento de viragem?
— Acho que sim. Sobretudo pela forma como a equipa respondeu nos últimos dois jogos. Está mais estável emocionalmente. Os jogadores são profissionais e sentiram na carne o peso das derrotas. Estamos em condições de olhar para a frente e, sobretudo, para cima da tabela classificativa.
— José Couceiro disse que não lhe pediram a Europa...
— Neste momento desvalorizo essa questão. Não há contrariedade entre o que o José Couceiro diz e o que a administração estabeleceu desde o início. O que há é mensagens passadas para diferentes públicos-alvos. A hora é mais de encarar o jogo seguinte. Diria que mais perto do último quarto do campeonato podemos estabelecer claramente o que pretendemos, sendo certo que o Belenenses, pela sua grandeza e passado histórico, tem de lutar sempre pelos cinco ou seis primeiros lugares. O ter de lutar não significa chegar lá. Mas esse terá de ser sempre o nosso objectivo.
— Foi erro estratégico assumir esse objectivo logo de início?
— Não sei dizer neste momento se o foi ou não. Mas a verdade é que até ao jogo com o FC Porto viveu-se aqui no Restelo um ambiente como já não se vivia há muito. Há quantos anos não iam 500 adeptos do Belenenses ao Estádio do Dragão? Emotivados, não apenas por os bilhetes ou a viagem serem acessíveis. Havia fé. Acho que a expectativa tem de ser sempre criada. O problema é quando existe grande diferença coma realidade. Entrámos num plano demasiado inclinado, que ninguém esperaria, e do qual foi muito difícil sair.
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