sexta-feira, dezembro 30, 2005

BR: Afastar Carvalhal foi decisão mais crítica que tomei

Entrevista publicada em O JOGO
O presidente da SAD do Belenenses, Barros Rodrigues, reconhece a dificuldade da decisão de demitir Carvalhal. Confirma conversas para a renovação do contrato de Marco Aurélio e admite reforçar a equipa em Janeiro
O JOGO A preparação atempada do plantel, a contratação de jogadores-chave e, pela primeira vez, a realização do estágio de pré-temporada no estrangeiro não justificavam outros resultados? O que falhou?
BARROS RODRIGUES Nós não temos controlo sobre todas as variáveis que afectam os jogadores. Houve uma acumulação de efeitos negativos, que não foi compensada com efeitos positivos. Infelizmente verificou-se essa situação, que não era expectável.
P "O Belenenses tem uma equipa técnica do melhor que há a nível europeu" - proferiu esta afirmação no início da temporada. Ficou desiludido com o trabalho de Carlos Carvalhal?
R O futebol tem contingências que escapam a um gestor normal e há parte do seu trabalho que não é materializado nos resultados. E, no futebol, são os resultados que contam.
P Afastar Carlos Carvalhal foi a decisão mais difícil que teve de tomar desde que está na SAD do Belenenses?
R Sim, afastar Carlos Carvalhal foi a decisão mais crítica que tomei.
P A saída do técnico foi consensual?
R Sim. No futebol não há fórmulas matemáticas que nos digam quanto tempo temos de esperar para obter resultados. E nós esperámos o tempo suficiente por uma reacção positiva, que não encontrámos. Ficámos muito frustrados com a exibição com o Estrela da Amadora. O jogo com o Aves foi também lamentável. E, nessa perspectiva, não havia retorno. A equipa técnica percebeu claramente a situação. Depois demos uma resposta cabal à situação. No prazo de 24 horas, arranjámos um treinador com credenciais, com currículo, com conhecimento do clube e dos jogadores.
P Nesse momento, teve de decidir a continuidade de Carvalhal, procurar um novo treinador e optar por Couceiro. Confirma que houve divisões entre a SAD e a Direcção do clube?
R Não, isso foi um pouco empolado. Todos os belenenses se sentiram preocupados, mas houve uma grande sintonia. O presidente esteve envolvido no processo desde o início. Não houve nenhuma clivagem.

"Julgar-nos antes do fim do mandato é mesquinho"

P A Taça UEFA foi o objectivo que foi falado no início da época. Se tivesse possibilidade de voltar a Junho ou Julho, o discurso seria o mesmo?
R Um clube como o Belenenses tem de lutar por um lugar entre os cinco/seis primeiros, porque o seu posicionamento geográfico necessita de ter visibilidade, ou então passa a ser um mero clube de serviços. O clube tem de se estruturar, construir a equipa com objectivos ambiciosos. Voltaríamos a ter a mesma postura, mas não com o epíteto de promessa. Nunca prometemos nada.
P O objectivo das provas europeias foi colocado em primeira instância pelos dirigentes, pela SAD e, por encadeamento assumido, pela equipa técnica e jogadores. Admite, desse modo, em caso de falhar o objectivo traçado, colocar o lugar à disposição?
R Neste momento, é uma questão prematura. A SAD tem um mandato e estar a julgar-nos antes do final do mandato é talvez demasiado mesquinho. Estou aqui para servir o clube e não ponho qualquer entrave se a administração tiver de sair. Não estou agarrado a nada. Como presidente da SAD, sou o primeiro responsável por tudo o que acontecer... O falhanço ou o sucesso.
P Mas o clube tem capacidade para assumir uma meta desse tipo?
R Penso que sim. Em termos de gestão, sei que o Belenenses está bem estruturado, bem organizado. O que necessitamos é de consolidar, e o que tem acontecido é o contrário, ou seja, a volatilização. Tão depressa conseguimos uma boa classificação como outra menos boa.
P E que passa também pela criação de uma equipa B...
R Estamos a trabalhar em questões estruturais para a SAD, como é o caso da equipa B, do departamento de prospecção, do futebol juvenil e do gabinete técnico. E são factores que vão dar frutos a longo prazo. Esta é uma época de transição, descem quatro equipas e, por isso, há que ter um cuidado redobrado para o curto prazo. Mas, provavelmente no próximo ano, vamos ter a equipa B a entrar nas competições."

-""É fundamental precaver a saída de Meyong"

P Quantos jogadores vai o Belenenses contratar para reforçar a equipa?
R Além de um ala, queremos um ponta-de-lança. É fundamental precaver a saída de Meyong. Temos de arranjar um jogador que colmate a sua ausência. E, pelas conversas que tivemos com o seleccionador dos Camarões, o Meyong está convocado para a Taça das Nações Africanas.
P Mas o clube tem capacidade financeira para, neste momento, contratar futebolistas?
R Nós não vamos pagar passes. A solução passa por jogadores sem custos - além do custo salarial.
P Marco Aurélio e Pedro Alves estão em final de contrato. Já houve conversas para a renovação dos contratos deles?
R Confirmo que já houve conversas com os jogadores. Nós temos poucos jogadores em final de contrato. Desenhamo-la para dois ou três anos. No caso dos profissionais que terminam o contrato este ano, estamos a falar de bons profissionais, que, a seu tempo, serão contactados. Já falámos várias vezes, não de uma forma oficial. Estamos diariamente com eles e ambas as partes sabem qual é o sentimento mútuo.
P O Rúben Amorim está a tornar-se um elemento fundamental na equipa. A sua ligação ao clube está assegurada?
R Sim, ele tem contrato por mais dois anos. O Rúben e o Rolando são exemplos de jogadores que vieram das camadas jovens e que estão a ter um lugar quase nuclear na equipa titular. O que nós queremos é ter mais exemplos destes.
P A cláusula de preferência do FC Porto sobre o Rúben Amorim e o Gonçalo Brandão mantém-se?
R Sim.
P Pelé tem sido observado por vários clubes. Já chegou alguma proposta concreta ao clube?
R Não. Enquanto presidente da SAD, sinto-me feliz por ver que os nossos jogadores são observados, o que significa que têm qualidade. Sabemos que o Pelé tem sido observado, mas, de concreto, não há nada. Temos tido apenas sondagens de empresários, mas que são apenas abordagens.
P Nenhuma proposta para nenhum jogador do plantel?
R Nenhuma. De qualquer modo, não temos uma posição fundamentalista. Se houver uma proposta, temos de avaliar a relação custo-benefício. Mas, se sair um activo, terá de entrar um activo. É um acto de gestão normal.
P O Rolando pediu a naturalização. Em que estado está esse processo?
R Penso que deve estar quase pronto. Foi um processo que avançou com menos fluência do que nós estávamos à espera, mas deve estar quase pronto.
P Há alguns casos pendentes, como a questão da ligação contratual com o Ceará e o Antchouet. Em que ponto está a situação?
R O Ceará é uma situação que temos de resolver. Resolvemo-la parcialmente. Tem contrato de Janeiro a Junho e é um processo que temos de resolver. Em relação ao Antchouet, é um processo de litígio, onde cremos ter razão. O contrato de opção com o Antchouet estava bem estruturado e a FIFA pretende que a opção não seja um cheque em branco. Não queríamos a via litigiosa. Fizemos uma contraproposta ao Antchouet, com uma melhoria das condições salariais, e ele recusou.

"Futebol está a matar-se a si próprio com uma 'overdose' de futebol"

P O protocolo com a federação italiana estabelecia que o Belenenses pudesse usufruir do centro de estágios de Coverciano por dois anos? No próximo ano, já está garantido o estágio em Itália?
R É uma questão que está em aberto. A questão é que nós deixámos passar um e não sei se já prescreveu o prazo. Estamos a tratar disso e, se pudermos, voltamos, porque o local é fabuloso e tem óptimas condições de trabalho.
P O que fazer para preencher as bancadas do Restelo, que têm sempre pouco público?
R Custa-me ver o Restelo como tenho visto. Uma das explicações é que o Belenenses passou por uma erosão brutal de sócios. A assistência média do Restelo [4400 pessoas] encheria qualquer estádio pequeno do Norte do País. Os jogos na televisão também retiram muito público. Não podemos fugir dos contratos de televisão, mas o futebol está a matar-se a si próprio com uma "overdose" de futebol. "
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