terça-feira, maio 10, 2005

Fez ontem um ano....

Artigo de opinião do Amigo Nuno Gomes

Fez ontem um ano, estávamos no Estádio do Restelo, com uma moldura humana invejável para a exígua quantidade de assistentes que habitualmente (des)povoam o Restelo, em uníssono a torcer para.... não descer.

Todos recordamos o amargo desse dia em que agradecemos aos Cónegos de Moreira e ao já famoso (e absolutamente alérgico a desculpas com traumas alheios), Manuel da Mula, por uma vitória sobre o nosso concorrente directo - o Alverca -, esse grande colosso que agora corre sérios riscos de se afundar na 2ª Divisão B, pagando a factura de ter sido satélite do planeta vermelho, esse mal-agradecido. Agora lembrei-me do Estoril não sei porquê...

À primeira vista, olhando para o 7º lugar que presentemente ocupamos, cumpridas que estão 32 jornadas, sentimo-nos certamente agradecidos que estamos por não passar este ano pelo mesmo. O pior é que somos tentados e levados a pensar que estamos a anos-luz desse dia e não a apenas 365 dias. Na minha opinião, não é tanto assim...

Claro que é reconfortante poder dormir descansado, há um ano não conseguíamos fazê-lo. Mas... ser do Belenenses, para quem se queira lembrar, é querer bem mais do que isso.

Não quero falar de modelos de jogo e suas insuficiências e inadequações ao tipo de jogadores disponíveis no plantel. Nem sequer quero falar do facto de termos recorrido a jogadores emprestados daqueles clubes que todos sabemos e alguns enterramos a cabeça na areia, só não nos lixam quando não podem ou nesse momento lhes dá imenso jeito usar-nos para fazer número ou para fantoche. Não quero falar disso. Nem sequer de erros de casting, em que jogadores sem capacidade para preencher em campo determinadas posições, foram repetidamente queimados. Também não quero falar disso. Quero apenas olhar para o presente e futuro.

Ao perspectivar a época seguinte, não consigo esquecer o discurso feito ao longo desta época, com o ponto mais alto (negativo) nas declarações que antecederam o jogo dos quartos-de-final da Taça de Portugal com o Estrela da Amadora e que continuam ainda a duas jornadas do final da época. O cúmulo, por repetição e insistência, nas declarações no final do jogo com o Nacional, sexta-feira passada no Restelo.

No jogo com o Estrela da Amadora, chocou-me a declaração de que a Taça não era objectivo. Inqualificável. Devia ser sempre um objectivo, até porque é a competição nacional em que os clubes menos abonados (logo, menos favorecidos pelas arbitragens + comunicação social + órgãos oficiais do poder (Câmaras Municipais e Governo) = SISTEMA) têm mais hipóteses de se destacar.

Ainda Sexta-Feira passada, no flash-interview a seguir à vitória sobre o Nacional (sim, fui ao jogo e estava a beber uma água no “ponto de encontro” – tinha a garganta seca de tanto entusiasmo) em resposta à pergunta:

Q: ”Para o ano, como foi já afirmado pelo Presidente, os objectivos para a época que vem passam pela luta por um lugar europeu...

pudemos ouvir de novo, pela enésima o relambório auto-defensivo, auto-protector, desmotivante e altamente irritante (para todos que com dois dedos de testa e percebam que há outros que passaram pelo mesmo que nós o ano passado e não os ouvi uma única vez desculparem-se com esta treta):

R: “Sabe.... no início desta época tivemos de criar tudo do início, um modelo de jogo, uma maneira de jogar à Belenenses que não existia e recuperar os jogadores, que a época passada foi muito traumática, blá, blá, blá... . Sobre a próxima época NADA! Ou seja, questionado sobre 2005/2006 respondeu com.... o trauma de 2003/2004, marimbando-se olimpicamente (isto ele absorveu facilmente no Belenenses) para os objectivos já traçados pelo PRESIDENTE. Nem mais, nem menos.

Há aqui um anacronismo (para não lhe chamar outra coisa) ou é impressão minha? Se calhar é...

Ao olhar para esta época, não consigo deixar de pensar nos cerca de 10 pontos, ou um pouco mais, que julgo que estiveram perfeitamente ao nosso alcance e que deixámos fugir por falta de atitude, em grande medida resultante do discurso miserabilista de quem devia ser o “motivador-mor” do grupo. Para não falar da vergonha da Taça. Atenção: vergonha de atitude, não de resultado (há 3 possíveis).

O que eu espero, sinceramente, é que a “nova” SAD saiba erradicar definitivamente este “discurso” (i.e. o faça desaparecer) e estabeleça definitivamente os objectivos já definidos, pelo Presidente, condignos com a nossa realidade e de acordo com o nosso potencial e esforço financeiro realizado.

Resumindo, que recupere o treinador do trauma que ELE tem, resultante da época, já longínqua de 2003/2004, de má memória para nós e em que ELE treinava o Vitória de Setúbal.

Se não o conseguir recuperar, a SAD terá um problema em mãos, lá para a 10 jornada da próxima época. Para bom entendedor...

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