terça-feira, outubro 18, 2005

Esta Árvore É Minha !!!

Artigo de Joaquim Rita publicado na revista “ A Bola Magazine”
Gentilmente cedido pelo meu estimado amigo Paulo Jesus:

Vinte e sete anos depois, Matateu voltou ao “berço”.
A longa ausência não levou aquele que foi um dos primeiros jogadores a adquirir o estatuto de “grande jogador” a esquecer-se dos mais pequenos pormenores
.
Fomos com Matateu visitar o “berço”. A caminho de Xipamamine, um dos bairros de Maputo, o velho ídolo ia recordando locais, pessoas, episódios.
A sua chegada a Xipamamine foi uma festa.
Uma festa que poderiamos chamar de “salvagem”,por nada ter tido de orquestrada ou tão pouco esperada. Ninguém sabia que naquela manhã, Matateu iria por alguns minutos regressar às origens.
Foi uma festa quando se soube que Matateu estava de visita. A miudagem acorreu em delirío, os mais velhos, aqueles que conheceram Matateu nos seus tempos de rapaz, precipitaram-se sobre o amigo há tanto tempo ausente.
Matateu, entre os míudos descalços também ele uma criança. Estava feliz, sorria,falava, queria aproveitar para dizer tudo, para recordar tudo, para regressar aos tempos em que também descalço começou a brincar com uma bola. Nascia então um dos mais portentosos futebolistas da sua geração, um dos melhores “embaixadores” que Moçambique teve a actuar em Portugal.
Logo à chegada, mal tinha saído da viatura em que seguiamos ,não se fez esperar o primeiro desabafo-reclamação;
- Esta é a minha árvore. Está na mesma como a deixei.Esta árvore é minha, não é de mais ninguém, não é do Eusébio, do Vicente, do Coluna, nem era do Samora Machel. Esta é a minha árvore a minha xiuchiva.
Era indescritível a alegria que, por encanto se instalou no pequeno e humilde Xipamamine. Os garotinhos eram cada vez em maior número,todos queriam estar junto do homem que sómente conheciam por ouvirem os mais velhos falar . O homem da “lenda Matateu”, afinal existia, estava ali, brincava com eles.


A dado momento Matateu perguntou para o grupo:
- Qual de vocês é o Matateu ?
Foi um pequenino que respondeu, enquanto acarinhava uma bola entre as mãozitas pequenas:
- Matateu sou eu !!
A resposta, em jeito de quem quer contentar todo o grupo:
- Vocês são todos meus filhos, são todos “matateus”.
Apareceram alguns familiares, trocaram-se abraços e recordações entre algumas lágrimas traicoeiras, que mais quiseram reforçar a felicidade do reencontro de Matateu com as origens. Lá estava a casa onde o grande ídolo dos moçambicanos nasceu. Ele mesmo fez questão de acentuar:
- Eu não nasci em maternidade ou hospital,eu nasci aqui, nesta casa velha, foi aqui que a minha mãe me deu ao Mundo.
À despedida dirigindo-se para aqueles que continuam a residir junto à casa onde nascera, Matateu fez um pedido. Pela primeira vez vimo-lo assumir um ar sério, talvez mesmo grave, ao dizer:
- Nunca deixem cortar a minha árvore. Se alguém quiser fazer mal à minha xiuchiva, digam-lhes que esta é a árvore do Matateu, era aqui que eu brincava. A xiuchiva do Matateu nunca vai acabar mas,se alguém a cortar vai deitar sangue, sangue de Matateu….

Nota do Editor: Dado o momento de azia que vivemos, nada melhor do que recordar um dos "Monstros" da História Azul. "Monstro" esse que era cheio de Humildade e Simplicidade para além de poder ter razões de sobra para ter ares de vedeta, visto que na realidade o era !!! Era esta pessoa simples e humilde que todos respeitavam. Isto é o que "exigo" aos nossos profissionais desde o Treinador aos jogadores, sejam Humildes, sejam pessoas simples, para poderem chegar a patamares mais altos no rendimento dentro de campo, é o que o Clube e a sua massa associativa e adepta esperam de vós, e tal como Matateu peço-vos : Não deixeis que "quebrem" ou "cortem" a nossa árvore - O Clube de Futebol "Os Belenenses"

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